O algodão é uma das culturas de maior produção no Brasil, tornando o país o maior exportador mundial do produto na última safra. Essa alta produção faz do algodão uma das culturas mais importantes para a economia brasileira. 

Este artigo explora o cenário atual da produção de algodão no Brasil, destacando sua relevância econômica, as principais regiões produtoras, os desafios enfrentados pelos agricultores em relação a pragas e doenças, e as práticas de manejo adotadas para garantir uma produção sustentável e competitiva no mercado global.

Importância econômica do algodão para o Brasil

A cotonicultura desempenha um papel crucial na economia brasileira, sendo uma das principais culturas do agronegócio. A produção nacional não só abastece o mercado interno, mas também coloca frequentemente o Brasil entre os maiores exportadores globais, ao lado de países como Estados Unidos e Índia. Na última safra, porém, o Brasil alcançou a posição de maior exportador mundial dessa matéria-prima.

O setor algodoeiro ocupa uma posição significativa na geração e na manutenção de empregos, na adoção de tecnologias e práticas sustentáveis e na melhoria da agricultura como um todo, sobretudo em regiões produtoras como o Centro-Oeste e o Nordeste. 

Todos esses pontos contribuem para acelerar o desenvolvimento dessas áreas, pois influenciam diretamente em aspectos sociais e econômicos, mesmo que uma importante parte da produção seja destinada ao mercado exportador. 

Consumo interno e exportações

No mercado interno, o algodão é fundamental para a indústria têxtil, que depende da fibra para a produção de tecidos, roupas e outros produtos. O Brasil é um dos maiores consumidores de algodão na América Latina, com uma demanda robusta que impulsiona a indústria local.

No entanto, o grande destaque da produção de algodão no Brasil está nas exportações. O país se consolidou como um dos principais fornecedores globais, com destinos que incluem países asiáticos, como China e Vietnã, além de mercados na Europa e na América do Norte. A qualidade da fibra brasileira, aliada à capacidade de produção em larga escala, faz do Brasil um competidor de peso no comércio internacional de algodão. 

A seguir, discutiremos as regiões de maior contribuição para esse grande volume de produção do algodão brasileiro.

Principais regiões produtoras de algodão no Brasil

O cultivo de algodão no Brasil é predominantemente realizado na região do Cerrado, com destaque para Mato Grosso, Bahia e Goiás. Esses Estados, juntos, são responsáveis pela grande maioria da produção nacional, com Mato Grosso liderando como o maior produtor de algodão em pluma do país.

Mato Grosso: o gigante do algodão

Mato Grosso se destaca como o principal Estado produtor de algodão no Brasil, representando cerca de 70% da produção nacional.

A ampla disponibilidade de terras, aliada ao clima favorável e à adoção de tecnologias avançadas, têm permitido aos produtores de Mato Grosso alcançar altos índices de produtividade. Além disso, a infraestrutura logística do Estado, com rodovias e portos, facilita o escoamento da produção para os mercados interno e externo.

Bahia e Goiás: produção e qualidade

A Bahia possui uma contribuição significativa para o total nacional. Essa região também tem se destacado pelo uso intensivo de tecnologia e pela aplicação de práticas agrícolas modernas, que têm impulsionado o crescimento da produção e a qualidade da fibra.

A região de Goiás vem se destacando na produção dessa matéria-prima e tem investido em pesquisa e desenvolvimento, buscando sempre melhorar a eficiência produtiva e a sustentabilidade das lavouras.

Essa notável qualidade e produtividade do setor agrícola algodoeiro se deve, em grande parte, à grande atenção destinada a superar os diversos entraves com que os produtores precisam lidar dentro das lavouras durante a safra. 

Desafios da cotonicultura: pragas, doenças e daninhas

A produção de algodão no Brasil enfrenta importantes desafios relacionados ao manejo de pragas, doenças e plantas daninhas.

Entre as principais ameaças, principalmente no início do ciclo, estão o bicudo-do-algodoeiro, as lagartas do gênero Spodoptera, doenças como a antracnose e a mancha-de-cercóspora e as diferentes populações de espécies vegetais invasoras.

Bicudo-do-algodoeiro: uma grande ameaça

O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) é considerado a praga mais destrutiva da cultura do algodão no Brasil. É um besouro pequeno, escuro e com um longo rostro (parte frontal alongada). Seu ciclo de vida é curto, variando entre 20 e 30 dias, o que permite a rápida multiplicação da praga em condições favoráveis

Esse inseto ataca os botões florais e as maçãs, causando quedas significativas na produtividade. O controle do bicudo é desafiador, exigindo uma combinação de diferentes estratégias, como o manejo da época de plantio, a destruição de soqueiras e o uso de inseticidas específicos.

Spodopteras: um desafio persistente

A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e as outras lagartas desse mesmo gênero (S. eridania e S. cosmioides) são outras pragas de grande relevância para o algodão. Atacam as folhas na fase inicial da cultura e os botões florais no período reprodutivo, comprometendo o desenvolvimento da planta e reduzindo a produtividade. 

O manejo integrado da lagarta-do-cartucho envolve o monitoramento constante das lavouras para identificar e controlar infestações precoces e a aplicação de inseticidas eficazes para o controle.

Além das pragas anteriormente comentadas, o produtor deve estar atento a possíveis aumentos das populações de:

  • ácaros (Tetranychus urticae e Polyphagotarsonemus latus);
  • percevejo-rajado (Horcias nobilellus) e 
  • tripes (Frankliniella schultzei).

Doenças fúngicas: antracnose e mancha-de-cercóspora

A antracnose (Colletotrichum gossypii) no algodão resulta em diversos sintomas, entre eles a presença de manchas escuras nas folhas e caule, lesões com centro claro que podem evoluir para regiões necróticas, murcha e amarelecimento das folhas em situações mais graves. O agente causal da antracnose consegue sobreviver por longos períodos na lavoura e pode ocorrer em qualquer fase da cultura. Essas características exigem que as estratégias de controle da doença sejam ainda mais rigorosas.

O fungo causador da mancha-de-cercóspora (Cercospora gossypina) pode se espalhar rapidamente pela lavoura, com alta severidade de danos e causando desfolha das plantas. Outros sintomas comuns da infecção por esse fungo são manchas foliares de formato circular ou irregular em ambas as faces das folhas, normalmente nas mais velhas. 

Sobre o controle de doenças, vale a pena tomar cuidado com outras doenças também importantes:

  • mancha-de-alternária (Alternaria alternata);
  • mancha-de-mirotécio (Myrothecium roridum);
  • ramulária (Ramularia areola), e
  • ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides).

Plantas daninhas no algodão

As plantas daninhas também podem representar um entrave significativo na produção de algodão, competindo por nutrientes, água e luz, diminuindo o potencial produtivo da cultura principal. Além disso, há o risco de servirem como hospedeiras para algumas pragas e doenças. 

Entre as principais plantas daninhas que afetam as lavouras de algodão no Brasil, estão:

  • buva (Conyza spp.); 
  • corda-de-viola (Ipomea spp.);
  • capim-amargoso (Digitaria insularis);
  • caruru (Amaranthus spp.), e
  • leiteiro ou amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla).

A população dessas plantas na lavoura é dependente de diversos fatores, como o histórico da área, as condições climáticas, o banco de sementes do solo e os manejos utilizados. Tantas influências podem resultar em diferentes populações dessas plantas e variar muito entre lavouras e safras.

Os devidos cuidados para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas incluem os princípios do Manejo Integrado. Nessa estratégia, as tomadas de decisão são realizadas a partir de um amplo entendimento das condições da lavoura. 

Manejo Integrado de pragas, doenças e plantas daninhas no algodão

Diante dos desafios impostos por pragas, doenças e plantas daninhas, os produtores de algodão no Brasil têm adotado práticas de manejo integrado que combinam diferentes estratégias, como os controles cultural, biológico e químico, para promover a rentabilidade e a sustentabilidade da produção. 

É extremamente importante ressaltar que, para qualquer um desses manejos integrados, a fase de monitoramento é indispensável. Essa etapa inicial servirá como base para identificar os principais problemas e as melhores formas de controle.

Manejo Integrado de Pragas (MIP)

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma estratégia amplamente adotada pelos produtores de algodão no Brasil. O MIP envolve o monitoramento constante das lavouras, o uso de armadilhas e feromônios para capturar e identificar pragas e a aplicação seletiva de inseticidas, quando necessário. 

Além disso, o MIP incentiva o uso de controle biológico, como a introdução de inimigos naturais das pragas, que ajudam a manter as populações de insetos sob controle.

Manejo Integrado de Doenças (MID)

O manejo de doenças na cultura do algodão inclui a utilização de variedades selecionadas e adaptadas pelo melhoramento genético, a rotação de culturas e a aplicação de fungicidas de forma preventiva e curativa. A rotação de culturas é uma prática eficaz para reduzir a incidência de doenças no solo, enquanto o uso de variedades resistentes permite minimizar os danos causados por patógenos específicos. 

A aplicação de fungicidas é feita de forma criteriosa, a partir da rotação de moléculas, respeitando as doses, momentos e intervalos de pulverizações, e fazendo uso de boas tecnologias de aplicação, visando preservar a saúde do solo, das plantas e do ambiente como um todo.

Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD)

O manejo de plantas daninhas no algodão envolve uma combinação de métodos mecânicos, químicos e culturais. Entre as práticas mais comuns estão a cobertura do solo com palhada, o que ajuda a suprimir o crescimento de ervas daninhas, a rotação de culturas e o uso de herbicidas seletivos. 

Com o correto uso dessas práticas, a cadeia produtiva do algodão é capaz de fornecer um ambiente equilibrado e sustentável. Isto permite que a cultura já estabelecida e bem desenvolvida, cresça ainda mais nas próximas safras. 

Sustentabilidade na produção de algodão

A sustentabilidade é uma preocupação crescente entre os produtores de algodão no Brasil, que têm investido em práticas agrícolas que visam reduzir o impacto ambiental da cultura, ao mesmo tempo em que mantêm a produtividade e a qualidade da fibra. Entre as ferramentas utilizadas nas últimas safras, podemos mencionar a agricultura de precisão e as certificações.

Agricultura de precisão

A agricultura de precisão é uma das principais inovações adotadas na produção de algodão no Brasil. Essa técnica envolve o uso de tecnologias avançadas, como sensores, drones e sistemas de georreferenciamento para monitorar e otimizar o uso de insumos agrícolas, como fertilizantes e defensivos. 

Com a agricultura de precisão, os produtores conseguem aplicar os insumos de forma mais eficiente, reduzindo desperdícios e minimizando o impacto ambiental.

Certificações e boas práticas agrícolas

Outro aspecto importante da sustentabilidade na produção de algodão é a adoção de certificações e boas práticas agrícolas. Alguns produtores participam de programas que promovem a produção de algodão de forma socialmente responsável, ambientalmente correta e economicamente viável. 

Esses programas incentivam os produtores a seguir critérios rigorosos de sustentabilidade, que incluem o uso racional de recursos naturais, a preservação da biodiversidade e o respeito aos direitos sociais dos trabalhadores.

Considerações finais

A produção de algodão no Brasil é um dos pilares do agronegócio nacional, com impactos significativos na economia, tanto pelo abastecimento do mercado interno quanto pelas exportações. Sempre atentos aos desafios relacionados a pragas, doenças e plantas daninhas, os produtores brasileiros têm adotado boas práticas de manejo integrado e investido em tecnologias que garantem a sustentabilidade da produção.

Com a aplicação de técnicas modernas, como a agricultura de precisão e a adesão a programas de certificação, o Brasil continua a se destacar como um dos maiores e mais competitivos produtores de algodão do mundo, oferecendo uma fibra de alta qualidade e contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico do país.